Abrigo está sendo construído para servir aos órfãos da comunidade, que são muitos
Por: Cassia Modena – jornalista voluntária
Tem esperança iluminando a Vila Búzi, localizada na província moçambicana de Sofala. Trata-se de um assentamento onde vivem cerca de 40 famílias que logo vão testemunhar a inauguração da Vila das Crianças, futuro abrigo para as dezenas de meninos e meninas órfãos moradores da região.
As obras estão a todo vapor e são conduzidas pela organização Soul Frater, braço da Fraternidade sem Fronteiras em Sofala. Três questões justificam a urgência de se concluir o abrigo e entregá-lo à comunidade: a realidade de extrema pobreza vivenciada após o ciclone Idai, a epidemia do vírus HIV e fatores culturais que levam à rejeição de crianças.
Quanto à pobreza, o idealizador e coordenador da Soul Frater, Luciano Diniz, cuida de entregar alimentos e suplementos para as famílias de 15 em 15 dias. A quantidade de itens disponíveis para doação muitas vezes é insuficiente, mas nem por isso deixa-se de ajudar.
A falta do que comer tem relação com os estragos que em 2019 o ciclone Idai deixou na comunidade, incluindo a destruição de plantações, comércios, do hospital local e as perdas humanas de muitos pais e mães trabalhadores, que deixaram filhos órfãos.
Quanto ao HIV, o vírus é um dos principais fatores responsáveis pela existência de ainda mais crianças desamparadas em Búzi, no antes e no pós-ciclone, e o mais forte motivador da criação da Vila das Crianças. “Algumas pessoas não acreditam quando eu falo, mas se trata de verdadeira epidemia. Adolescentes são infectadas por volta dos 14 anos, quando têm sua primeira relação sexual. Se engravidam, é comum morrerem no parto e os bebês sobreviverem”, conta Luciano.
Por fim, existem fatores culturais que acabam produzindo rejeição a mais crianças. O caso de Albino, que hoje é filho adotivo de Luciano, é um exemplo. “Eu o encontrei distante da família que o cuidava, embaixo de uma árvore e dividindo a comida com animais. Estava cheio de terra. Ele tinha um corpo magro e a cabeça grande. Tinha seis dedos em cada mão e não andava, mesmo já tendo quatro anos. Logo entendi que era rejeitado por ser diferente e consegui autorização para trazê-lo para casa e criá-lo como meu filho”, detalha Luciano.
A expectativa da Soul Frater e da Fraternidade Sem Fronteiras (FSF) é, com a Vila das Crianças, mitigar a situação de vulnerabilidade social vivenciada pelos moradores do assentamento e oferecer condições adequadas para os pequenos viverem com saúde e cresçam tendo, ao menos, o básico.
Como será a Vila – Pessoas da própria comunidade trabalham hoje na construção da Vila. Elas recebem seus salários da Soul Frater que, parceira da FSF, capta doações destinadas à Búzi. “Nós estamos lutando para conseguir concluir a Vila das Crianças e remunerar nossos trabalhadores em dia. Estamos muito avançados”, explica Luciano.
Os órfãos serão abrigados, receberão o que for necessário e chamarão a Vila de lar. A previsão é que frequentem a escola da comunidade, assim que o prédio terminar de passar por uma reestruturação. Será um alento ver as crianças crescendo de forma digna, tendo seus Direitos Humanos respeitados. “Aqui eles dormem de fome, é uma realidade dramática. A fraternidade tem mudado esse lugar e ajudado a salvar vidas.”, diz Luciano.
Cada abrigado terá uma ficha individual de admissibilidade, que permitirá fazer o acompanhamento particular das suas necessidades, com o histórico das suas origens e peculiaridades sociais e psicológicas, bem como da saúde física. A Soul Frater e a Fraternidade Sem Fronteiras vão garantir profissionais para realizarem esses trabalhos.
Desde já, há uma lista de espera de 40 crianças para serem abrigadas.
A Soul Frater – A organização parceira da FSF foi fundada em 2019. Já atuou em outras localidades, e desde o início deste ano está em Sofala. Possui mais voluntários, mas não em Búzi, onde o coordenador da Soul Frater atualmente trabalha sozinho.
“Como estou aqui sozinho, meu trabalho acaba tomando um significado muito pessoal. Acompanho, observo, entendo as necessidades. Por mais que a gente não queira se deixar levar pela emoção, não tem como eu não me colocar no lugar. Eu me sensibilizo e procuro fazer todo o possível. A Fraternidade Sem Fronteiras tem nos apoiado em tudo e é fundamental para a consolidação desse trabalho”, depõe Luciano.
A missão da organização está alinhada à da FSF: contribuir para um mundo mais humano e mais justo, reduzindo barreiras físicas e culturais e promovendo a melhoria da qualidade de vida, a união e a fraternidade.
Se você deseja contribuir com a conclusão da Vila das Crianças e com a reconstrução do assentamento de Búzi, clique aqui e contribua com este projeto. Sua ação fraterna vale muito!