O Projeto, que atende cerca de 200 crianças no Brasil, ultrapassou fronteiras
Por Marco Antonio Cruz – Assessoria de Imprensa
O Projeto Microcefalia, Amor sem Dimensões, da Organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras (FSF), atua, desde fevereiro de 2017, oferecendo tratamento multidisciplinar para crianças com microcefalia e teve início no Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, em Campina Grande, Paraíba. Atualmente, além das quase 200 crianças atendidas nos polos em Belo Horizonte, MG, Campina Grande, PB e Maceió, AL, o Projeto acolhe seis crianças em Angola, na África.
Esse trabalho no continente africano teve início, em 2018, após uma carta com pedido de ajuda enviada por Madaleno Batalha, pai de Miriam, portadora de microcefalia, à FSF.
“Começou por um pai, em Angola, que teve uma criança com uma cabeça pequena e não sabia do que se tratava. Começaram a pesquisar e descobriram pela internet o que era microcefalia, que estava tendo um surto e no Brasil estava começando esse tratamento, por meio de pesquisas e estudos da médica obstetra Adriana Melo, relacionados ao Zika Vírus e sua correlação com a doença. Então entraram em contato com a Fraternidade sem Fronteiras”, conta Romero Moreira, coordenador do Projeto Microcefalia, Amor sem Dimensões.
“Chamo-me Madaleno Batalha, tenho 23 anos. Vivo na cidade de Luena, uma pequena cidade de Angola. No ano passado tive uma filha que nasceu com microcefalia, ela tem 9 meses de vida. Aqui na minha província não existem técnicos para que ela frequente as consultas, não tenho possibilidades para levá-la a capital do meu país. Peço-vos encarecidamente, que me enviem alguns vídeos de terapias, para eu mesmo fazer em casa”, dizia o e-mail, em maio de 2018, de Madaleno, pai de Miriam.
Quem recebeu o e-mail foi a então coordenadora do setor de Relacionamento da FSF, Tatiane Resende. Ela foi quem intermediou o contato de Madaleno Batalha e a médica Adriana Melo.
“Eu peguei o contato e telefonei pra ele. Ele chorou muito. Não acreditou. Ele me explicou que lá onde ele mora é uma aldeia, é afastado da cidade e ele ficou emocionado porque a gente teve esse cuidado de querer entender melhor sobre a filha dele. Peguei os detalhes, repassei à médica Adriana que me disse que havia relação com a doença e que eles iriam precisar vir ao Brasil para avaliação da criança. Conversamos com o Wagner – fundador e presidente da FSF – e ele disse para providenciarmos todo o apoio”, relembra Tatiane, hoje coordenadora de Marketing da FSF.
Em novembro de 2018, Miram chegou ao Brasil com a mãe, Suzana. A criança não tinha exames suficientes para o diagnóstico, contava somente com poucos estímulos e uma deformidade na cabeça. Miriam passou por todos os exames, esteve por nove meses em tratamento multidisciplinar em Campina Grande, PB, e depois voltou à Angola com a mãe.
O atendimento a Mirim fez com que os coordenadores do projeto, Adriana Melo, Romero Moreira e Jousilene Tavares embarcassem com Elaine e Kal Sacchi, Juliana e Lucas Komtoyanis (padrinhos da FSF) para o país africano. Em Angola, os caravaneiros localizaram seis crianças, reunidas com a colaboração de Suzana, a mãe da bebê Miriam. Realizaram os exames necessários e comprovaram a presença da Síndrome Zika Congênita, sendo esses, os primeiros casos oficialmente informados ao Governo angolano.
“O governador da província de Viana, vizinha à Luanda, foi quem nos deu todo apoio. O Kal Sacchi é um pecuarista de Mato Grosso do Sul, comercializava gado com o país e era padrinho do Projeto. Ele teve esse primeiro contato com as autoridades locais”, contou Romero que complementou, “há um grande hospital lá e nós levamos essas crianças num dia, reunimos todas e eles disponibilizaram os exames de tomografia e raio-x. Nós fizemos também ultrassonografia em uma mãe que estava grávida, tinha um filho com microcefalia e estava chorando pensando que o outro filho também nasceria com a doença, mas a criança não apresentava a doença. Foi uma comemoração no hospital, porque ela estava grávida de oito meses sem ter feito nenhum exame”.
A partir daí, o Projeto Microcefalia, amor sem dimensões estendeu a ação e manteve o tratamento à distância para essas seis crianças e as famílias. Dois fisioterapeutas são responsáveis pelo atendimento das crianças. Quando elas têm necessidade de alguma outra interação, é requisitado pelos pais. Os pais são orientados a trabalharem exercícios mínimos que promovam um desenvolvimento nas crianças.
“A gente montou um projeto piloto – a “telefisioterapia” – que tem dado alguns resultados. A fisioterapia que alguns de nossos profissionais acham que é possível que a mãe execute, eles estão fazendo, para manter a criança alongada, para evitar algumas complicações. Não é uma fisioterapia que a gente pode dizer formal, até porque é uma mãe que está executando”, contou Romero.
A “telefisioterapia” é feita por meio de celulares adquiridos e doados pela FSF às famílias. O Projeto disponibiliza mensalmente o equivalente a R $300, que é suficiente para que seja adquirido os dados móveis para a internet, fraldas, leite e o medicamento necessário.
O desenvolvimento de Miriam emociona quem acompanha a história desde o início.
“Eu reencontrei a Miriam maior, já estava bem diferente das fotos. Quando falaram pra ela que eu que tinha recebido o e-mail, ela me abraçou, chorou, agradeceu e disse que eles rezavam por mim”, relembra Tatiane durante o reencontro, em 2019, no III Encontro da Fraternidade sem Fronteiras, em Belo Horizonte, MG.
Para um futuro pós pandemia, o objetivo da coordenação do Projeto é expandir os atendimentos em Angola. Por enquanto, com as restrições impostas pela Covid-19, o acompanhamento segue apenas para as seis crianças.
“A gente coloca o olho em uma criança, a coloca no braço e o vínculo está criado. A gente não deixa mais de ter contato. O nosso pouco faz muita diferença na vida de cada uma delas. A gente constata que vivemos num mundo tão desigual e que tão pouco poderia modificar a vida de tanta gente”, conclui Romero.