A coordenadora do projeto Nação Ubuntu, Clarissa Paz, e o voluntário Evaldo Palantinsky contam sobre suas vivências ubuntu no campo de refugiados do Malawi/África
“Ubuntu é uma filosofia, uma ética africana que significa eu sou o que sou porque somos todos nós. Quem tem Ubuntu é aquele que entende que nós precisamos uns dos outros para tudo. A gente fala tanto de família universal, que somos todos irmãos, mas ainda não conseguimos aplicar na prática, olhar o outro e falar: esse é meu irmão”. Essa é uma reflexão que Clarissa Paz compartilhou na série de lives #Ubuntu da Fraternidade sem Fronteiras, que contou com a participação do voluntário Evaldo Palantinsky.
Clarissa, a menina que cresceu participando de projetos sociais numa escola religiosa tradicional do Rio do Janeiro, hoje coordena o projeto Nação Ubuntu no Malawi/ África, localizado ao lado do Campo de Refugiados de Dzaleka, que abriga cerca de 45 mil pessoas que fugiram de seus países de origem devido à guerras e crises humanitárias.
A dura realidade do campo contrasta com a fé, a bondade e a vivência Ubuntu que os refugiados compartilham com os nossos voluntários. “Um povo que vem de guerra, que viveu traumas terríveis como os refugiados, tem tanto amor, tantos valores que eu nunca vi na minha vida. Quando a gente vai comer na casa deles, vê a casa cheia de gente – pessoas que não são da família, pessoas que não tem condições – eles dividem tudo o que têm. Você vai na casa deles, eles dão o melhor deles. Querem separar a única carne que eles conseguiram comprar para você comer”, conta Clarissa sobre uma das experiências que teve junto aos refugiados. O gesto a fez refletir e indagar as pessoas que a receberam:
– Vocês estão dividindo tudo o que vocês têm, o que vocês vão comer amanhã?
– Clarissa, tem gente passando fome hoje. Como a gente vai guardar comida para amanhã? – respondeu uma das pessoas.
A resposta fez Clarissa ver que nós, mesmo quando temos recursos sobrando, não o dividimos por não saber como vai ser o futuro. E pessoas com tantas dificuldades que, mesmo tendo muito pouco, dividem o que têm. Isso a despertou para o verdadeiro sentido do que é vivenciar Ubuntu, o verdadeiro amor.
Numa realidade tão difícil como a do campo de refugiados, onde famílias se abrigam em casas minúsculas, precárias, sem saneamento básico, água encanada e a lutam diariamente por um prato de comida, essas pessoas dividem com os nossos voluntários o real sentido da vida, ensinam sobre resiliência e viver o Ubuntu.
O voluntário Evaldo, que esteve no projeto Nação Ubuntu no começo deste ano, também divide como essa experiência o transformou: “Encontrei pessoas extraordinárias, de uma força e resiliência que, talvez, jamais tenha convivido na minha vida. No campo de refugiados você encontra pessoas com traumas profundos, com derrotas importantes, com perdas familiares significativas. Mas gente que faz questão de estar em pé. Pessoas que não se entregam. Quando você vê essas pessoas vivendo da maneira que vivem, com a simplicidade, com a generosidade que existe dentro do campo, você repensa muita coisa sobre a nossa forma de viver, [de sermos consumistas] e dedicar o nosso tempo para essas coisas. Isso me tocou profundamente”.
A vivência de Clarissa e Evaldo no campo de refugiados traz uma indagação para todos nós: Como podemos universalizar o Ubuntu? Vivendo uma experiência de profunda imersão. “A experiência do voluntariado muda muito a maneira como a gente compreende as coisas. Queria que todo mundo tivesse a oportunidade de vivenciar essa experiência de voluntariado. Pode ser em Dzaleka, aqui no Brasil, no “Brasil, um coração que acolhe”, pode ser em qualquer projeto do seu bairro, na sua rua. Isso humaniza a gente e muda a forma como a gente vê o outro”, explica Evaldo.
A gente chegou num nível de evolução tecnológica e da humanidade, que não dá mais para a gente não se indignar com a distância que existe entre as diferentes populações do planeta. Se você olhar e pensar que tem mais de 1 bilhão de pessoas que não tem acesso à alimentação, à uma condição mínima dignidade de vida, a gente precisa universalizar o Ubuntu. Não tem outro caminho. E quando a gente fala de universalizar o Ubuntu, não é o valor religioso, o valor da cultura exclusivamente africana, é universalizar a dignidade humana. Ubuntu ele começa pensando que somos iguais. Eu só sou porque você é. Eu não sou melhor do que você, não há nada em mim, nem credo, nem religião, nem cor, absolutamente nada que me faça melhor do que você. Essa premissa que nos coloca numa condição de igualdade, ele é um caminho para evoluirmos como seres humano no planeta”.
Se você perdeu esse lindo encontro de aprendizagem Ubuntu, acesse nosso Instagram e assista no IGTV o que os nossos voluntários compartilharam. Lá você também pode rever as lives dos líderes ubuntu Maick Mutej, Frank Donald, Prince Kaloli e Felly Zihal, que participaram da série #Ubuntu. Vamos aprender a vivenciar e praticar Ubuntu e tornar o mundo um lugar cheio de amor!