Corações voluntários para ajudar refugiados
Voluntários de diversas cidades brasileiras unem-se para arrecadar alimentos, produtos de higiene e medicamentos para ajudar famílias venezuelanas que atravessam a fronteira para o Brasil, todos os dias, fugindo da maior crise humanitária da América Latina. A mobilização de arrecadação vai fortalecer uma ação inédita que acontecerá durante a Páscoa. Brasileiros de várias cidades vão em caravana à Roraima, levar assistência, atendimento à saúde e criar pontes para o que os venezuelanos mais precisam: trabalhar para recomeçar. A ação está sendo coordenada pela ONG Fraternidade sem Fronteiras em parceria com o Projeto Canudos.
“Essas pessoas que estão deixando o país sem saber pra onde ir, são pessoas como nós. Fico pensando como seria se eu pegasse as minhas malas e saísse a pé, atravessando a fronteira pra um país que eu não conheço, que eu não falo a língua”, solidariza-se Danielle Gimenes, voluntária da FSF, moradora de Itu, interior de São Paulo. Ela tem amigos venezuelanos e diz que ao ouvir relatos deles criou ainda mais empatia pela causa.
A voluntária da FSF, Joyce Simões, de Indaiatuba, diz que a situação das crianças é a que mais a sensibilizou. “Eu acho que as piores cenas foi ver o pessoal esperando em uma fila, um monte de criança pra ganhar um pão. Pra gente que é mãe, é difícil”, conta, completando: “a gente está se juntando aqui, pequenas abelhinhas se juntando pra poder ajudar”. As doações de Itu, Indaiatuba e outras 16 cidades do interior de São Paulo serão levadas em caminhão até Boa Vista. O transporte foi doado por um dos empresários que apoiam a causa.
O coordenador da campanha em Campinas, Ranieri Dias, está feliz com o resultado na cidade. “O objetivo era esse de encher uma carreta de produtos não perecíveis e de higiene básica. A ação juntou muita gente, graças a Deus, o objetivo é esse, deixar as pessoas fraternas”, comemora Ranieri, esperançoso de que a ação se repita. “Saber o drama de uma pessoa sair com uma mão na frente e outra atrás, sem alimento, as vezes muito fraco e ter que andar 250 quilômetros, essa situação me comove”, comenta.
A situação também sensibiliza o farmacêutico Satyaki Afonso, que organiza doações em Goiânia. “É maravilhoso quando nós percebemos que um pequeno esforço da nossa parte gera um movimento tão grande. É muito bonito ver o Brasil acolhendo um povo vizinho”. A ajuda pode vir de qualquer lugar do País, mesmo de onde não tem pontos de coleta. Como o transporte até Roraima custa caro, foi aberta uma campanha para doação de qualquer valor em dinheiro para compra de itens de necessidades básicas, em Boa Vista, durante a caravana da Páscoa. A doação pode ser feita em uma das contas da Fraternidade sem Fronteiras.
Não mais refugiados, acolhidos – Além de alimentos, itens de higiene e atendimento médico, os voluntários que irão até Boa Vista vão realizar cadastros para encaminhar os imigrantes ao mercado de trabalho. A voluntária Priscila Alexandre, uma das responsáveis pela ação, relata que a caravana começou do sonho de 4 pessoas que iam em pequeno grupo e acabou se transformando em algo muito maior em apenas 4 dias. “Essa é a primeira caravana pra lá. Eu ainda não consegui assimilar o tamanho que está se tornando isso. Que essas pessoas se sintam acolhidas, abrigadas, e não mais refugiadas, que elas possam se sentir em casa”, deseja.
Brasil, um coração que acolhe – A campanha de arrecadação e a caravana a Roraima intensificam as ações de ajuda humanitária, já iniciadas pela Fraternidade sem Fronteiras. Em outubro do ano passado, a FSF lançou a campanha “Brasil um coração que acolhe” e com a ajuda de voluntários, padrinhos e apoiadores, inaugurou, pouco antes do Natal, um centro de acolhimento para venezuelanos em Boa Vista.
O centro tem capacidade para acolher 100 famílias. Ele foi construído em uma área de cinco mil metros quadrados e o aluguel de um ano do terreno foi doado por empresário local. As famílias dormem em barracas dormitórios, doadas à ONG por empresário de São Paulo. O refeitório, banheiros e lavanderia são de uso coletivo e foram construídos em alvenaria. Entre os acolhidos, há os que viajaram para outros estados, contratados. Assim, à medida que conquistam novas oportunidades, abrem-se espaços para novas histórias, novos sonhos de recomeço.
Para quem quiser participar dessa caravana de amor e fraternidade é só acessar pelo link http://bit.ly/CadastroCanudos e se cadastrar.