Marialice, psicopedagoga, descobriu seu propósito de vida ao trabalhar no acolhimento de famílias venezuelanas
Por: Izabela Piazza – estudante de jornalismo e voluntária FSF
Anos atrás em uma visita a Araxá (MG), ela conheceu a Fraternidade sem Fronteiras (FSF) através de um membro que já participava e estava palestrando em um evento. Por curiosidade, ela resolveu ficar e assistir. Ao final ele encerrou a palestra com um vídeo sobre a África e os projetos desenvolvidos pela FSF. “Eu toda vida fui apaixonada para conhecer os irmãos africanos, um verdadeiro respeito e reverência a mãe África”, relata Marialice Giovani.
Desse momento em diante seu coração bateu mais forte por esse chamado, ela sentia que poderia fazer mais, e fez. Passou então a acompanhar de perto os trabalhos e, meses depois, participou de um encontro em Campinas (SP). De lá embarcou direto para África e mesmo sem estar oficialmente na FSF, ela já se envolvia completamente com a causa.
Na volta para o Brasil ela continuou caminhando dentro dos projetos, pensando o que poderia fazer a mais para alcançar um número maior de pessoas. Foi quando descobriu o acolhimento de famílias venezuelanas no projeto “Brasil, um coração que acolhe” e abraçou totalmente a ação.
Quando chegou ao centro de acolhimento ela conheceu uma família de Pacaraima (RR ) que precisava de ajuda para o filho de 10 anos, Guilherme Davi, com traços leves de autismo. Ao conversar com o pai, Efrain Mejias, soube que ele trabalhava consertando armários, mas que no momento estavam morando na rua, em cima de um papelão.
Ela ainda não tinha se cadastrado para acolher e nem a família estava cadastrada, mas ela enxergou aquela situação como um sinal forte para entrar de vez no que seria seu propósito de vida.
Era pra ser
Alguns dias depois dessa visita, uma amiga de Marialice mandou mensagem dizendo que havia encontrado duas casas em Uberlândia (MG) e uma delas estava doando dois meses de aluguel para acolher a família . “Eu não sabia nem por onde começar ou o que fazer, eram tantos sinais”, relembra. Ela é católica simpatizante do espiritismo e acredita que a religião pode edificar boas ações, como fez com ela.
Mesmo com as incertezas ela resolveu ficar com a casa e negociou mais meses de aluguel para ajudar a família. Quando se deu conta já estava envolvida no processo. Ela entrou em contato com eles para explicar como funcionaria a vinda para a nova cidade, o tratamento que eles poderiam ter para o filho e todos os recursos essenciais para uma qualidade de vida.
As doações também foram chegando, logo a casa ficou toda mobiliada, com cama, máquina de lavar, colchão, roupa e televisão, “foi uma coisa tão bonita de se ver”. A ajuda de amigos e de membros da Fraternidade foi fundamental.
No final, ela se cadastrou e a família acolhida também, mesmo de trás para frente, tudo se encaixou e eles estavam recomeçando uma vida mais digna. Ela entrou de paixão e mergulhou nessa história. Esse carinho fez toda diferença no resultado. A sua fé também falou mais alto e ela confiou que poderia gerar o bem para outras pessoas, “Foi tão de coração que tudo só fluía”.
A família não esperava encontrar uma casa tão cheia de utensílios e móveis. A mãe, Yelitza Doña, conta que quando desembarcou em Uberlândia chorou ao ver Marialice a espera deles: “Eu não sabia se ia mesmo ter alguém esperando a gente”. Os abraços foram apertados como forma de agradecimento e alívio por conseguir finalmente encontrar um lar. Meses depois as irmãs dela também conseguiram se mudar para a cidade.
Outras histórias
Mesmo em ano de pandemia ela não economizou esforços para alcançar outras famílias. Em uma das caravanas encontrou um rapaz chamado Jesus, também com autismo, que precisava de acolhimento para ele e a família. Ao todo eram 9 pessoas, uma família bem maior do que o esperado, mas apesar de toda dificuldade ela prosseguiu.
A casa logo foi encontrada e com os recursos distribuídos da FSF foi possível pagar meses de aluguel e antecipar a ida, “As coisas são burocráticas, mas fluem de uma maneira incrível. Quando você abre seu coração, você vira um instrumento”.
Marialice sente que está em um processo profundo de aprendizado dentro da FSF, ela busca se tornar cada vez mais útil, ir cada vez mais longe. Depois que entrou até o simples ato de sair da cama ganhou um significado diferente, a vontade de viver cresceu e a de mudar multiplicou. No final de tudo são as histórias vivenciadas que a transformam constantemente para um bem maior.
Projeto Brasil, um coração que acolhe – em Roraima, a FSF atua em dois centros de acolhimentos para refugiados venezuelanos: o São Vicente II e o Espaço Emergencial 13 de Setembro, onde é oferecida orientações para serviços de educação e saúde, alimentação, moradia, itens de higiene, roupas e aula de português. As famílias com interesse pelo programa de interiorização são cadastradas no Sistema Acolhedor, que visa promover a reinserção socioeconômica destas em território nacional.
Para realizar a interiorização são feitas prospecções das novas oportunidades de acolhimento, conforme o perfil pré-determinado pelo acolhedor, e então realizada a conexão com a família que mais se identifica. Nesse processo são feitas apresentações por chamadas de vídeo entre as famílias beneficiárias e os acolhidos para alinhar as expectativas de ambos, as propostas de emprego, o tempo de apoio à moradia, informações sobre a casa e a cidade. Depois de tudo alinhado, e com o consentimento de todos os participantes e das diretrizes do termo de acolhimento, é dado início à solicitação de passagem, que são feitas com o apoio da Operação Acolhida. Após a mudança das famílias, o projeto acompanha a adaptação por, no mínimo, três meses.
Quer fazer parte da família FSF e ser um tutor fraterno? Entre em contato pelo número de telefone (67) 99994-3180 ou acesse: https://bit.ly/3dwhiQE