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FSF Entrevista: Bismark Araújo

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Bismark Araújo

ENTREVISTA com Bismark Araújo

Retratar a realidade de um local é mais complexo do que parece quando partimos da ideia de que tudo passa através da gente antes de chegar aonde precisa chegar. Quando passamos uma mensagem para alguém, passamos ela através do nosso olhar, que tem o poder de desenhar o mundo a nossa volta através da nossa perspectiva. Esse olhar é o que nos impulsiona a realizar o que precisamos realizar. Ao olhar o outro com esperança e amor, conseguimos agir movidos por esses sentimentos, transformando assim, aquilo que se viu naquilo que se vê.

O fotógrafo Bismark Araújo, criador do projeto Retratos de Esperança, abraçado pela Fraternidade sem Fronteiras (FSF) em 2018, viveu e vive até hoje essa experiência de completa imersão no outro através do olhar.

Sua perspectiva sobre suas origens, o Sertão da Bahia, nos impulsionou de encontro ao Retratos. Seu olhar cheio de esperança, amor e fé nos fez querer fazer parte dessa iniciativa que tem o poder de mudar vidas.

Durante o III Encontro Fraternidade sem Fronteiras que aconteceu no Estádio Mineirão em Belo Horizonte/MG, batemos um papo com o fundador do Retratos sobre sua história até aqui.

Esperamos que você consiga olhar o Retratos de Esperança sob a perspectiva de Bismark, e que possa sentir o tamanho do amor que ele sente pelo Sertão da Bahia e sua gente tão guerreira.

FSF: Como que começou o Retratos dentro do seu coração?
Bismark: A ideia do Retratos nasceu em 2008. Nessa época, eu estava com 16 anos e havia recém descoberto o Orkut, e que era possível fazer fotos e publicar essas fotos na rede social. Eu moro no Sertão da Bahia, lá nós passamos por dificuldades como seca, miséria e muita pobreza.Com isso eu pensei em fotografar a minha realidade e publicar para que pessoas de outras cidades e outros estados pudessem ver essas fotos e talvez nos ajudar. Nessa época eu e minha família passávamos por um momento muito difícil, não tínhamos o que comer em casa. Minha mãe me criou sozinha, era analfabeta, vinda da roça. Meu pai foi embora quando eu tinha sete anos de idade. Então, quando eu descobri a fotografia, eu quis mostrar a minha miséria para o mundo inteiro ver que passávamos fome na Bahia.

FSF: E foi assim que você entrou no universo da fotografia?
Bismark: Sim. Apesar deu ter tido essa ideia eu não consegui colocar ela em prática porque eu só fui ter minha primeira câmera aos 18 anos de idade, dois anos depois. Nessa época eu fotografei um andarilho e com essa foto ganhei um concurso. Então, em 2012 minha carreira de fotógrafo alavancou. As coisas começaram a acontecer, eu comecei a ganhar dinheiro e fui perdendo um pouco do foco. Eu comecei a querer ter tudo o que eu não tive e me perdi por uma estrada da vaidade, da ganância, de querer ter sempre mais. Até porque eu ouvia muito que nós não éramos importante e aí eu pensava “agora quero mostrar que eu tenho”.

FSF: E como isso mudou?
Bismark: Foi até que em 2014 eu tive uma crise de depressão. Em 2015, já tratado, eu viajei pelo Brasil como mochileiro e então quando voltei para a minha cidade eu vi como ainda havia muitas pessoas passando fome. Nessa época eu já estava em um patamar de fotografia mais elevado. Minhas fotos já eram vistas por algumas pessoas. Então foi quando eu me lembrei de onde eu venho e quem eu sou. Pensei “agora sim eu posso usar da minha fotografia um meio de transformação de vida”.
E aí o que eu fiz. Comecei a fotografar, de fato, as dificuldades do meu povo, da minha terra, da minha região, colocando em prática o projeto inicial lá de 2008.

FSF: O que significa para você agora a parceria do Retratos com a FSF?
Bismark: Mudança. De 2015 a 2018 nós atendemos 2 mil pessoas em oito municípios da Bahia. Hoje, com o abraço da Fraternidade atendemos 12 municípios da Bahia do extremo norte ao extremo sul. São mais de 3.800 pessoas atendidas. A FSF nos deu a possibilidade desse impulsionamento, de chegarmos a novos corações, a mais vidas. Hoje estamos construindo a Vila Esperança, que serão 12 construídas no total. Agora estamos construindo a primeira, em Canudos, extremo norte da Bahia quase divisa com Pernambuco. Lá existe uma miséria muito forte em alguns povoados, apesar de ser uma cidade bem histórica.

Bismark entregando uma das casas

FSF: E como serão as Vilas?
Bismark: Dentro dessa primeira vila serão construídas 14 casas.
Em cada Vila Esperança terá também um centro de acolhimento, um centro médico e um centro educacional multiuso.
As famílias abrigadas são compostas, às vezes, por até 12 pessoas. Então por isso, ao total serão 400 pessoas atendidas nessa vila.
Nós iremos derrubar as casas de taipa que existem por lá e iremos construir casas de tijolos.

FSF: E como foi que você encontrou a FSF?
Bismark: Eu estava indo para a Etiópia em 2018 e fui pesquisar sobre voluntários na internet e encontrei sobre o II Encontro Fraternidade sem Fronteiras que iria acontecer em Campo Grande/MS, em abril de 2018. Eu iria chegar ao Brasil um dia antes do Encontro, então comprei a passagem e fui direto para Campo Grande. E aí foi que eu conheci e fiquei apaixonado pela Fraternidade porque a mesma base que a FSF utiliza, nós utilizamos também, que é a base espiritual. Nós acreditamos muito na espiritualidade e abraçamos todo ser humano, sem nenhuma restrição, tanto que eu brinquei com o Wagner (Moura, presidenta da FSF) dizendo que iria mudar o nome do Retratos para Fraternidade e ele riu e disse “já é fraternidade”. Enfim, tudo foi muito conectado e muito bonito. Acabou que o Wagner visitou nossa região em junho de 2018 e foi quando ele realmente entendeu que precisávamos fazer mais.

Presidente da FSF conhecendo o projeto Retratos de Esperança

FSF: No começo do projeto, como ele era mantido?
Bismark: O projeto era mantido por recursos próprios. Em 2015 em fui convidando amigos para me ajudarem e alguns realmente me ajudaram. Em 2016 os recursos começaram a acabar e nessa época eu agradeci a Deus por ter conquistado tudo o que eu achava que era importante financeiramente porque então eu comecei a doar minhas coisas em prol do Retratos de Esperança. Em 2016 tivemos a ideia de vender camisetas e as pessoas foram aderindo. Em 2017 nós conseguíamos lucrar cerca de R$ 800 mensais. E aí a gente ia fazendo… Nesse mesmo ano construímos a primeira casa. De 2018 para 2019 construímos cinco casas. Hoje a gente vive de apadrinhamento, mas no início era de recursos próprios.

FSF: E o livro que vocês vendiam? E as palestras?
Bismark: Então, em 2017 eu lancei o primeiro livro que eu doei todo para o Retratos de Esperança e com esse dinheiro construímos a primeira casa. Hoje temos outro livro, o Fotopoesia, que é composto por fotos minhas com as poesias de Judeonimo dos Santos Oliveira, um amigo meu e poeta da região. E nós vendemos obras de arte por lá também. Eu dou as minhas imagens para o projeto e todo o dinheiro arrecadado com as vendas retorna para o projeto. Então hoje nos mantemos de fotografia e apadrinhamentos mais as doações avulsas.

FSF: E os apadrinhamentos que vierem da Fraternidade sem Fronteiras serão destinados para o que?
Bismark: Será destinada para todas as áreas onde atuamos, que são seis no total: educação, esporte, arte e cultura, assistencialismo social, construção e esporte. Então assim, nós atendemos 12 municípios e em cada um às vezes temos de três a quatro iniciativas. Por exemplo, temos Valente/BA que tem aulas de esporte, música e o assistencialismo. Então por isso, o  foco agora é a construção da vila já que ela irá abranger todas as áreas. Vai ser lindo!

FSF: E o que vocês esperam dessa nova fase?
Bismark: Eu espero que os corações de todos nós continuem firmes na ideia de que é possível transformar o mundo.

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