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Um relato de acolhimento de muitos corações

/ / Blog, Roraima

“Recebemos uma ligação da sede da Fraternidade pedindo ajuda urgente para uma família de refugiados venezuelanos que se encontravam inesperadamente na rodoviária de Belo Horizonte. Prontamente no grupo que formamos, o MG acolhe, decidimos que  os acolheríamos. Já estávamos há cerca de um mês tentando nos organizar para trazer uma ou mais famílias do Centro de Acolhimento em Roraima, mas ainda devagar com os preparativos. Foi como um presente dos céus. Podia imaginar Deus dizendo: “Filhos, vocês já tem condição! Tomem aí esta família e mãos à obra!”. E assim foi!

Há um grupo de WhatsApp,  20 pessoas interessadas em auxiliar, e rapidamente mobilizados, foram aparecendo as ajudas dos voluntários. Gabriela Abreu, fisioterapeuta que integra nosso grupo, cancelou sua paciente e se dirigiu imediatamente para a rodoviária. Lá estavam Fanny, Alonzo e os filhos Fabiannys (14 anos), Miguel (7 anos) e Emmanuel (4 meses). A gratidão que expressaram nos olhares e sorrisos de esperança encheram nossos corações. E não por acaso, toda a família foi carinhosamente recebida em uma casa de Apoio de nome Porto Esperança, presidida pelo pai de nossa voluntária Gabi. Melhor acolhimento não poderia haver. Lá receberam refeições, instalações confortáveis e carinho. Chegaram apenas com a roupa do corpo e uma troca, mas rapidamente recebemos muitas doações que supriram as necessidades urgentes.

Nossos voluntários se mobilizaram e se revezaram no carinho e na atenção a alguns pontos especiais, desde a necessidade de avaliação médica de queixas agudas até a dedicação a horas de lazer e passeios pela cidade. Com a rápida mobilização visitamos apartamentos e casas disponibilizadas por voluntários e optamos por um apartamento no bairro Sion, cedido pela médica Luciana Silveira, que também integra nossa equipe de voluntários da Fraternidade sem Fronteiras..

Muitas mãos amigas doaram móveis e tempo para organizar toda a mudança, o que não foi tarefa fácil. Rodrigo de Freitas, empresário, coordenou equipes de carretos voluntários para buscar em pontos diversos da cidade tudo o que havíamos recebido, a fim de que a mudança pudesse ocorrer brevemente, uma vez que Porto Esperança se destina a acolher pacientes em tratamento fora de domicílio, e não poderia recebê-los por muito tempo. Voluntários se mobilizaram em um final de semana para separar todas as muitas doações (Lídia Prata, Janaína, Laís, Claudia Chiavegatto, Rodrigo de Freitas, Gabriela Abreu) e o trabalho terminou em um lindo encontro de confraternização entre brasileiros e venezuelanos, com a presença de uma família venezuelana acolhida meses antes pela Lídia, e que ficaram muito contentes em rever os amigos que também foram acolhidos emergencialmente ainda em Roraima, no centro de Acolhimento da Organização por lá.

Tudo muito bem sucedido, 13 dias após a chegada em BH, a família já está instalada no apartamento cedido e mobiliado. Alonzo está empregado, pela AME Editora, onde auxilia na organização do estoque, e as crianças se encontram matriculadas na rede municipal de ensino (Escola Municipal Presidente João Pessoa), onde inclusive poderão fazer refeições. Também foram matriculadas em aulas de música e esportes, todas gratuitas. Desde o dia em que chegou, a maior preocupação da Fabiannys era se matricular em uma escola, e em seu primeiro dia de aula foi recebida com muito entusiasmo pelos colegas brasileiros e por toda a equipe da escola, que se mostrou muito solícita e agilizou magnificamente o processo de inserção das crianças na rede de ensino.  

Toda a família já se encontra também cadastrada no SUS, e contarão com a rede pública para consultas preventivas e curativas, quando necessário.

Fabiannys canta e toca violão com muito talento e sua música alegre encheu nossos corações. Neste sábado (27/10) fará uma apresentação para cem pessoas em nosso Encontro Regional, e está encantada por tocar pela primeira vez para um público. A gratidão e alegria são marcantes.

Mas havia um ponto de tristeza angustiando a todos e que nos foi colocado logo que chegaram. Em Roraima, ainda havia cinco outros integrantes da família: Maria (mãe de Fanny, 71 anos), Arelis (irmã de Fanny) e seus dois filhos: Daniel (12 anos) e Yenifer (14 anos), e Doris (tia de Fanny). Angustiava muito a família o fato de Arelis se encontrar em tratamento para um câncer de mama avançado, de mau prognóstico e com baixa expectativa de vida. A angústia da família imediatamente se transformou na certeza de que não poderíamos deixar de trazer os outros cinco integrantes para Belo Horizonte no menor tempo possível, para permitir à família viver o amor e a união nesse momento tão difícil. Como temos quatro médicos na coordenação dos voluntários (Claudia Chiavegatto, Luciana Silveira, Andrei Moreira e Marcus Ribeiro), conseguimos articular com a rede assistencial de Roraima para que Arelis viesse em segurança e de forma a otimizar os ciclos de quimioterapia que vem recebendo, e que estão sendo muito importantes para melhorar sua qualidade de vida. Em tempo recorde compramos as passagens e trouxemos a família na companhia da psicóloga de nosso Centro de Acolhimento, Laura Pinzon, para garantir que o trânsito de Arelis fosse o mais seguro e confortável possível.

Temos recebido contribuições em dinheiro que nos ajudaram a custear em parte as passagens aéreas. Foi uma grande expectativa e alegria receber hoje a outra parte da família que chegou de Roraima. Muitos abraços, sorrisos, choros de alegria, alívio e gratidão – muita gratidão! Mesmo com todo o cansaço da viagem, a família concordou em seguir para a escola, onde as crianças já foram imediatamente matriculadas e receberam uniforme e material escolar para começar os estudos no dia seguinte.

Foi especialmente lindo ver nos olhos e lágrimas da Laura, a alegria de ver a vida voltando a acontecer. Por todos os cantos recebemos sorrisos e mãos dispostas a vencer qualquer burocracia e ajudar na integração dos refugiados. O coração é só amor, só alegria, só emoção… Quem se envolve vê e sente a força do sentimento de fraternidade, que leva o mesmo nome da Organização, e dos laços que nos unem enquanto humanidade.

A certeza que a gente tem agora, é a de que não podemos parar…
Juntos podemos muito mais… “

(Claudia Chiavegatto)

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