Brasil, um coração que acolhe: “ajudar é melhor para quem ajuda do que para quem está sendo ajudado”
Em novembro de 2017, Marcos Antonio Castro Blanco chegava a Roraima trazendo na bagagem a esperança de dias melhores. Venezuelano da cidade de Puerto La Cruz, migrou para o Brasil em busca de uma melhor condição de vida, que já não conseguia manter em seu país de origem devido à forte crise econômica que atravessa a Venezuela.
Por lá, Marcos trabalhava na indústria petroleira, ganhava em torno de três salários mínimos, pagava escola particular para as duas filhas e vivia uma vida confortável.
Com a crise, o salário de Marcos não dava nem para comprar comida. Foi então que decidiu sair do trabalho, migrar para o Brasil e encontrar o filho mais velho de 23 anos, que já estava no país.
“Com o dinheiro da minha rescisão paguei passagem de Puerto La Cruz a Santa Helena e de lá peguei um ônibus até a fronteira do Brasil com a Venezuela. Quando cheguei a Boa Vista, consegui vaga em um abrigo público onde fiquei em torno de 1 mês”, conta Marcos, que acrescenta, “deixei minha família para trás porque não sabia o que encontraria por aqui”.
Já em Boa Vista, Marcos conheceu outra venezuelana que luta com todas as forças para que seu povo seja acolhido: a Alba, coordenadora do Centro de Acolhimento da Fraternidade sem Fronteiras na cidade. Com isso, ele foi encaminhado para lá, onde ficou ao todo 7 meses. “Nesse meio tempo, arrumei alguns bicos como carregador e ajudador no mercado, não foi fácil conseguir esses trabalhos. Depois catei latinhas na rua para vender e assim conseguir juntar dinheiro para voltar a Venezuela e trazer minha família”, explica. E ele assim o fez.
Em julho deste ano, Marcos e sua família, já no Centro da FSF, foram acolhidos por Jorge Damien, um voluntário de São José do Rio Preto (SP), que ao conhecer o projeto através de uma reportagem na TV, logo procurou a coordenação para oferecer casa, passagens e ajuda. “Jorge se cadastrou e recebemos essa oportunidade de ajuda. Me sinto muito bem com minha família aqui comigo. Minhas filhas já estão na escola e eu já estou procurando trabalho. Não posso deixar de agradecer a Deus e a todos que me ajudaram”, comenta Marcos.
“A casa que o Marcos está morando hoje era a casa do meu avô, que faleceu há muito tempo e nós não tínhamos coragem de alugar essa casa para ninguém. Então, quando eu vi a necessidade dessas pessoas, coloquei esse lugar a disposição”, explicou Jorge, que acrescenta, “e foi muito legal a reação deles quando entraram na casa. As meninas começaram a correr e foram em direção a um barril de brinquedos que tínhamos colocado ali e isso para mim foi um alivio”.
A adaptação, segundo Jorge, tem sido muito boa, principalmente para as duas meninas. “O Marcos está bem adaptado, a Graciela, que é a mãe, chegou bem tímida e hoje já conversa e sorri bastante. As meninas que segundo a mãe choravam muito em Boa Vista, hoje são crianças felizes que brincam e vão a escola com a maior naturalidade”, contou ele.
Como todo imigrante, a saudade de casa é enorme e o desejo que as coisas mudem e melhorem é mais forte ainda. “Sinto falta de tudo no meu país, quero regressar um dia. Peço a Deus que nos ajude, que Ele interfira para que meu país volte a ser o que era antes”, desabafa ele, que completa, “no entanto, sou muito grato a Fraternidade sem Fronteira e a tudo o que todos fizeram por mim, não tenho nem palavras”.
“Meu conselho para quem quer se tornar um acolhedor é que se a pessoa realmente tiver vontade todo o processo se torna bem mais fácil”, conta Jorge. “A melhor parte de tudo é o carinho que você recebe. Então, ajudar faz mais bem para gente do que para quem está sendo ajudado”, finaliza ele.
Abaixo, trecho sobre a chegada de Marcos em São José do Rio Preto.