Com união e investimento de R$500 mil, eles construíram a “Cidade da Fraternidade” e 500 pessoas vão deixar de sofrer com a fome, ter acesso a água limpa e produzir
Em meio a uma das piores crises humanitárias do planeta, na África subsaariana, nasce uma pequena cidade com casas, área para cultivo sustentável, oficinas de trabalho, oferta de água limpa e vida nova para pessoas que viviam na absoluta miséria. A obra é resultado da mobilização de voluntários de diversos países do mundo, especialmente do Brasil, e ganhou nome inspirado no sentimento que os uniu. A Cidade da Fraternidade é um projeto da Organização humanitária internacional, Fraternidade sem Fronteiras e está sendo inaugurada neste mês, em Ambovombe, sul da ilha de Madagascar.
Na área doada de 45 mil metros quadrados, foram construídas 100 casinhas de madeira, lavanderia e banheiros coletivos. A perfuração de um poço artesiano, com energia solar, vai abastecer as casas e a água vai também irrigar hortas e servir à agrofloresta, modelo de cultivo sustentável que será implantado por voluntários, especialistas no assunto. Em breve, inicia-se a oficina de costura e de biocarvão, que possibilitará a substituição do carvão tradicional, utilizado com grave prejuízo à saúde das famílias da região.
Uma médica de família vai morar na Cidade para cuidar e orientar a comunidade. O dia-a-dia na pequena cidade será de direitos e obrigações. Todos vão produzir e contribuir para a sustentação do bem coletivo, com o objetivo de que entre 6 meses e um ano, as famílias conquistem a autossustentação.. As normas de convivência incentivam a responsabilidade e a cultura da paz. Esse propósito aparece de muitas formas, como nas placas com nome das 16 ruas da Cidade – “esperança”, “amizade”, “solidariedade” – que expressam valores essenciais do projeto.
Do sonho à realidade
Há poucos meses, essa iniciativa transformadora era ainda um sonho. Em fevereiro desse ano, um grupo de voluntários embarcou em caravana organizada pela FSF para conhecer o projeto humanitário da ONG brasileira, na região. Ao mesmo tempo em que os voluntários se encantaram com o acolhimento, sentiram o quanto era preciso avançar. Uniram-se, então, em torno do novo ideal e o primeiro passo foi dado já durante a caravana, com a doação do terreno por empresário voluntário que integrava o grupo.
A partir daí, o movimento de Fraternidade sem Fronteiras lança a campanha para a construção da Cidade da Fraternidade, utilizando as mídias sociais e site da instituição, divulgação em eventos e grupos de Whatsapp. Em abril, no II Encontro da FSF, em Campo Grande/MS, o fundador e presidente voluntário da Organização, Wagner Moura, anunciou que a soma das doações já alcançava 90% do valor necessário para a construção das moradias. A mobilização prosperou e, em seis meses, ao custo de 500 mil reais, 100 famílias – aproximadamente 500 pessoas – vão deixar de passar fome e sede, na África.
Neste julho de Copa do Mundo, brasileiros, de diferentes estados, estão no sul da ilha de Madagascar, integrando a caravana de 35 voluntários que vão participar da inauguração da Cidade da Fraternidade. Alguns estiveram lá em fevereiro, e hoje, comovidos, vêem o colorido das casas, todas mobiliadas, destacar-se com simplicidade, em meio ao cenário de extrema pobreza. Ao contemplar a Cidade da Fraternidade, dá pra sentir, quase como se pudesse ouvir, que é possível acabar com a fome e construir um mundo de paz.
A crise humanitária no sul de Madagascar
A ONU estima 850 mil pessoas sofrendo com a fome e a sede no sul da ilha de Madagascar, localizada na África subsaariana – região considerada a mais pobre do mundo.
Em Ambovombe, encontramos uma realidade comovedora, difícil de imaginar. As pessoas chegam a ficar até 60 dias sem tomar banho. Sem acesso à água, esperam a chuva cair para assim conseguirem fazer sua higiene.
A água na região precisa ser comprada. Sem dinheiro, as famílias bebem água suja, o que acarreta doenças.
Mais de 50% das crianças atendidas pelos médicos voluntários da FSF, durante caravanas à região, têm desnutrição aguda ou severa.
Sem calçado, os pezinhos das crianças, após longos anos em contato direto com o chão, ficam cheios de feridas e tornam-se canal de entrada para doenças.
Sem roupinhas adequadas, as crianças usam trapinhos e chegam a crescer dentro da mesma peça porque não têm outra para vestir.
A Fraternidade na ilha de Madagascar
A Organização Humanitária Fraternidade sem Fronteiras chegou à Madagascar em fevereiro de 2017, motivada pelas notícias de que o sul da ilha vivia a pior crise humanitária do planeta. De imediato, a FSF iniciou ajuda emergencial e lançou o projeto Ação Madagascar, convidando pessoas de todo o mundo para apadrinhar a causa, doando R$ 50,00 por mês.
Nesse período, com a união de padrinhos, voluntários e apoiadores, a ONG abriu e mantém duas unidades. Na primeira, são atendidas 400 crianças que antes viviam nas ruas de Ambovombe pedindo migalhas, sem estudar. Hoje, todas recebem alimentação, tem acesso à água limpa e frequentam a escola.
A segunda unidade aberta pela FSF, o Campo da Paz, atende diariamente 3 mil pessoas, especialmente crianças e mães. Elas recebem alimentação, bebem água limpa, escovam os dentes, tomam banho e lavam suas roupas. As famílias vão à unidade em períodos alternados – manhã e tarde. No Campo da Paz, foi construído um centro de atendimento médico com farmácia e implantado consultório odontológico. As famílias são atendidas por profissionais voluntários, dentistas, médicos e enfermeiros, durante as caravanas realizadas de 3 em 3 meses, que além de atender nos centros de acolhimento já existentes por lá, irão disponibilizar atendimento em mais duas aldeias, uma delas Androhondroho, onde uma pequena estrutura servirá para distribuição de alimentos e consultas médicas.
Agora, o movimento fraterno inaugura a Cidade da Fraternidade, com esperança de que esse modelo de projeto sustentável seja o primeiro de muitos outros no sul da ilha.