A união é a solução.
“Brasil um coração que Acolhe” – Centro de acolhimento em Boa Vista. Roraima.
As notícias se espalharam da mesma maneira que os venezuelanos se encontram pela cidade. Por todo lugar, há refugiados em Roraima, fronteira com o país vizinho em crise. A Organização humanitária Fraternidade sem Fronteiras está na região. Chegou em outubro de 2017 para conhecer a realidade e iniciou de imediato o trabalho de ajuda humanitária. Lançou a campanha Brasil, um coração que acolhe, mobilizando a comunidade, apoiadores, voluntários e os próprios imigrantes. A união viabilizou, em menos de três meses, a construção de um centro de acolhimento para famílias venezuelanas.
O centro tem capacidade para acolher 100 famílias. Ele foi construído em uma área de cinco mil metros quadrados e o aluguel de um ano do terreno foi doado por empresário local. As famílias dormem em barracas dormitórios, doadas a ONG por empresário de São Paulo. O refeitório, banheiros e lavanderia são de uso coletivo e foram construídos em alvenaria. A obra foi coordenada por um empresário construtor, voluntário de Mato Grosso. A cozinha industrial, onde os próprios venezuelanos preparam a comida, foi doada por empresário do setor de alimentos do interior de São Paulo e um outro doador garantiu mesa e bancos ao refeitório.
“Se queremos um mundo melhor precisamos agir para construirmos”, diz João Paulo, empresário de Boa Vista que apoia o projeto e compreende que “os venezuelanos não estão nessa situação por opção, na verdade por total falta dela. São trabalhadores, perderam tudo, não podemos deixar de sentir compaixão. Não tenho palavras para expressar o quanto foi gratificante o dia da inauguração do centro de acolhimento. Resumindo, somos nós os beneficiados”. O pensamento do empresário João combina com o de dona Ana Ziegler, funcionária pública, moradora da cidade e madrinha do projeto. Ao ser indagada por que motivo passou a doar mensalmente, responde: “Como não ajudar? É preciso dizer mais alguma coisa? É só olhar e ver esse belo trabalho”, relata, observando em volta a vida no centro de acolhimento.
Vida em comunidade – Os próprios venezuelanos cuidam do lugar onde são acolhidos. Eles cozinham, limpam, servem um ao outro. “Nós somos uma comunidade, uma grande família. É como minha segunda casa. Vivi tudo isso que eles estão passando e quando soube do projeto, eu pensava que era um sonho, mas aconteceu. É possível ajudar o próximo”, relata, Alba Gonzales, venezuelana e coordenadora do centro de acolhimento, que em 2015, atravessou a fronteira pelo mato com um filho pequeno no colo.
Sem hora para chegar ou sair do centro, a advogada Vanessa Epifânio, ajuda a acolher. “Se eu mudar a vida de uma só pessoa, já me sinto completa. Me orgulha fazer parte disso”. Ela assume a correria de atendimento à saúde, escola e documentos dos acolhidos. Vanessa também acompanha Alba no trabalho de cadastro das famílias que estão morando na rua. Famílias com crianças, grávidas e idosos têm preferência.
Os imigrantes estão fugindo da fome. Há ainda quem espera trazer os que ficaram para trás, em seu país. “Meus dois filhos e minha esposa. Eles ainda estão lá. Estou trabalhando em obras para juntar 500 reais e trazê-los, já tenho 250. Estarei realizado morando com eles aqui”, anseia Marcos Antônio Castro, morador do centro. Ele trabalha com carpintaria e reconstrução de aparelhos eletrônicos.
Situação difícil também de Jenifer Garcia, de 19 anos, cursava engenharia mecânica, quando ficou impossível continuar. “Não foi fácil tomar essa decisão. Meu bebê de um ano está na Venezuela com o pai e a avó, quero trazê-los. Vim para trabalhar, recomeçar. Já tenho um lar”, Jenifer atravessou a fronteira com sua prima de 21 anos. Ambas também estão acolhidas no centro.
Nas ruas, a procura por trabalho. No centro, recebem dignidade. Uma nova, e de volta, vida em comunidade. Café da manhã, almoço e janta. Aulas de português, quatro vezes na semana. Recreação com as crianças, dança, música, entoada pela arte dos venezuelanos. Em breve, com a ajuda de parceiros e voluntários, a FSF vai oferecer cursos profissionalizantes. Padaria, corte e costura e carpintaria serão os projetos iniciais.
Atualmente 159 venezuelanos vivem no centro, 100 já saíram, arrumaram emprego na cidade e alugaram casas em conjunto. Há os que viajaram para outros estados, contratados. Assim, à medida que os acolhidos recomeçam suas vidas, abrem-se espaços para novas histórias, novos sonhos, novos imigrantes.
Sistema de apadrinhamento – De qualquer lugar do mundo é possível ajudar a acolher. No site da FSF, basta clicar sobre “apadrinhe” no banner da campanha, no topo da página inicial. A esperança de todos do movimento de Fraternidade sem Fronteiras é de que mais padrinhos adotem a causa e que o Brasil, testemunhe ao mundo sua solidariedade, construindo pontes de paz.
Kamila Lovizon
Boa Vista, Roraima 25/02/18