“Garrafas que atravessam o mar”
Uma cena emprestada da poesia: de uma garrafa lançada ao mar. Em Santos, escolas têm juntado moedas para receber sorrisos da África. O projeto “Garrafas ao Mar” está sendo apresentado aos alunos para sensibilizar o olhar ao próximo, mesmo ele estando distante.
Idealizado pela professora de Artes Ana Lúcia Caetano, de 54 anos, voluntária da Fraternidade Sem Fronteiras, por enquanto o projeto piloto chegou a três escolas, mas o coração já está colhendo os frutos desta interação.
A proposta é a seguinte: de moedinha em moedinha, é possível juntar o montante que vai ajudar na construção de salas de aulas nas aldeias. “É um convite para refletirmos sobre a importância da vida com o saber. Este é um direito fundamental e as crianças precisam da nossa ajuda”, sintetiza a professora.
A primeira experiência que Ana teve em sala de aula foi emocionante. “As crianças querem poder ajudar a fazer alguma coisa e isso é muito bom. Os pequenos de lá precisam de alimento material, enquanto os nossos precisam de outro tipo de alimento. De valores, da ética, porque estão muito desvinculados deste processo fraterno. Precisamos mostrar que dá certo ajudar”, enfatiza Ana Lúcia.
A didática é de uma professora que por décadas esteve em sala de aula, lecionando para alunos do Ensino Fundamental e Médio. Ana é também autora do projeto “Cadernos para África” que, ao lado de voluntários, desde 2015, personaliza capas com nomes das crianças africanas.
Nas escolas, a garrafa PET vira cofre para receber as moedinhas de 1 real e para casa, as crianças levam informações sobre a Fraternidade e sobre como a família pode se tornar madrinha da causa. “Eles vão economizando. ‘Hoje vou colocar uma moeda, duas, três’, imagina a professora. E quando o limite máximo é atingido, a escola faz a contagem e realiza o depósito na conta da Fraternidade.
“No dia que isso acontece, dizemos que a garrafa é ‘lançada’ ao mar para chegar até as escolas de Moçambique”, explica Ana. E o amor ancora lá. A contribuição dos alunos vai para a construção e reforma de salas para que estudantes tenham o prazer de aprender.
Como “resposta” da mensagem lançada, as crianças de lá mandarão fotografias e relatos. Enquanto as daqui vão sentir o abraço fraterno. “Acredito que as crianças de Moçambique ensinarão todos nós a não desistir, pois entenderemos que formamos uma única família. Se nossas crianças compreenderem essa mensagem com o coração, teremos daqui um tempo uma nova geração, acredita a professora.
O projeto será apresentado tanto em escolas particulares quanto em públicas, no intuito de dar esperança a uma geração cercada pela descrença no próximo. “Queremos mostrar que daquele trabalho honesto que ele contribuiu, vai ter uma resposta. Na época que a gente está vivendo, em que tudo é corrupção e nada vai dar certo, isso já é um retorno”, acredita.
Garrafas ao Mar começou a ser executado em abril. No entanto, somente depois de uma avaliação dos resultados, prevista para agosto, é que o projeto pode se espalhar para todo País.
O nome do projeto diz muito sobre a troca que vai existir entre África e Brasil. “Existem muitas histórias de quem queria falar com alguém muito distante e aí se mandava uma garrafa. Ela chega como ajuda, como um recado de nós que estamos no Oceano Atlântico e imaginamos como deve ser do outro lado”, poetiza a professora.
Nosso desejo é que muitas garrafas sejam lançadas ao mar. O projeto pode se espalhar por todo País e a professora está prontinha para ajudar outros voluntários. “Toda vida é essencial, toda vida é especial! Adote o Projeto na sua escola”, convida Ana. O e-mail para saber mais do projeto é: garrafasaomarfsf@yahoo.com.br.