Por: Ana Barbosa – jornalista voluntária
“Eu sei o que é ser uma criança que não tem acolhimento, eu sei exatamente o que a alminha delas sentem”. Essa percepção foi feita durante a primeira viagem que o tenente aposentado do Corpo de Bombeiros Militar, Edmilson dos Santos Neto, mineiro de Coronel Fabriciano (MG), fez ao chegar no Senegal em setembro de 2011. Na ocasião ele foi acompanhar um pesquisador que pertencia à uma agência brasileira que cuidava de crianças na Nigéria e que queria colher informações para entender o fenômeno que faz com que o país tenha milhares de crianças em situação de rua, especialmente no Senegal, pois havia uma denúncia de sofrimento de crianças em demasia naquele local.
Edmilson Neto, teve uma infância dura e muito pobre. “Sofremos vários tipos de situações complicadas, como maus tratos e tudo mais. Nos faltava muita coisa, quase tudo, éramos muito carentes de afetividade e desde cedo eu era uma criança muito insegura e medrosa” revela.
Aos 12 anos ele e os irmãos receberam acolhimento de um casal que se importaram em tirá-los daquele contexto de sofrimento oferecendo afetividade, acolhimento emocional e psicológico, aprenderam a tocar instrumentos musicais, desenvolveram habilidades comunicativas e receberam apoio para que tivessem uma formação profissional. “Essa acolhida deu um salto quântico na minha formação como pessoa, consegui entender que a vida de uma pessoa bem colocada consegue transformar uma outra vida”.
Esse momento foi um ponto de virada na vida de Edmilson que desenvolveu dentro de si o real desejo de vencer, mas não só pra si, mas também de ajudar outros a terem suas vidas transformadas. “Construí dentro de mim esse sentimento e a vontade de transformar outras pessoas, me tornei um desbravador de tudo o que é possível, uma pessoa que vai até as últimas consequências, mas para o bem” enfatiza.
Esse pano de fundo da vida de Edmilson serviu de alicerce para que na sua primeira viagem à África ele pudesse compreender que as crianças senegalesas em situação de rua precisavam muito mais do que cuidados paliativos, elas precisavam de um suporte, de uma atenção e apoio integral que gerasse real transformação na vida delas. “O que mais me impactou no Senegal não foi nem as crianças, foi eu mesmo, porque a dor que havia em mim na infância eu via nelas, eu me lembrei da dor que sofri. Quando eu olhei para aquilo eu falei: não pode, eu tenho que fazer qualquer coisa, nem que seja apenas uma coisa pra mudar um pouquinho a vida de pelo menos uma criança”, conta.
Após um mês entre Nigéria e Senegal (África), Edmilson retornou ao Brasil determinado a criar um projeto de orfanato para transformar aquelas crianças e adolescentes senegalesas. A pesquisa inicial que o levou à África não foi para frente, tempos depois a agência que financiou a pesquisa também deixou de existir, mas Edmilson estava obstinado com a sua ideia.
No ano seguinte, em 2012, Edmilson vendeu tudo o que conseguiu, incluindo casa e terreno, abandonou o carro em uma oficina porque não conseguiu negócio e voou sozinho, em julho de 2012, em direção ao Senegal para dar os primeiros passos na formatação do projeto Chemin du Futur, que quer dizer em francês, língua oficial do país, “caminho para o futuro”.
Durante um ano, Edmilson estudou o talibés, um fenômeno social, cultural e religioso que faz com que o país tenha cerca de 100 mil crianças, quase todos meninos, em situação de rua, sendo 30 mil só em Dakar, capital. Os meninos talibés são obrigados ao ensino do Alcorão e forçados a mendigar nas ruas para “aprender a humildade”. No entanto, essa situação os expõe à criminalidade, abuso sexual, maus tratos severos quando não conseguem esmolar a quantidade de dinheiro estipulada pelo mestre, e com isso a saúde física, mental, psicológica e emocional da criança é completamente comprometida.
Durante esse primeiro ano de imersão local, Edmilson formatou o projeto Chemin du Futur em estrutura de orfanato, onde os meninos pudessem morar e receber assistência irrestrita. “Escolhi pegar o pior caminho, que é acolher a criança integralmente, ninguém faz isso lá no Senegal, geralmente dão comida, café da manhã e almoço, evangelizam, leem um trecho da Bíblia e a criança vai embora, volta para aquela condição. Mas nós decidimos criar uma casa para que a criança more ali e receba todo apoio”.
Antes de retornar ao Brasil, retomar a carreira no Corpo de Bombeiros e, finalmente, se aposentar, Edmilson montou e treinou uma equipe para tocar o projeto no Senegal, e continuou a gerenciar o Chemin du Futur à distância. “Não foi fácil, passei muito perrengue, não conseguia agregar gente para colaborar financeiramente porque eu não tinha influência e me vi incompetente. Quase encerrei o projeto e foi quando a Fraternidade sem Fronteiras me achou, por algum tipo de providência, através do Ranieri Dias [vice-presidente da FSF]”, conta.
Desde 2016, a FSF apoia o projeto do Chemin du Futur e com as ações de apadrinhamento e doações avulsas consegue manter o orfanato aberto e em pleno funcionamento, prestando atendimento à saúde, acompanhamento escolar e capacitação profissional para 20 meninos, até que completem 18 anos. Durante a estadia no orfanato eles recebem condições dignas para viver e formação profissionalizante – como a de avicultura, panificação, elétrica básica e de construção civil; além de aprenderem a cuidar de horta.
A parte educacional é uma das que mais se destacam, além do reforço escolar que é oferecido pelos monitores que acompanham os meninos, fazendo com que eles sejam excelentes alunos nas escolas públicas de Dakar, recentemente passaram a ter aulas de inglês. “É um trabalho tão bem feito que outras crianças da vizinhança passaram a frequentar o orfanato para também receberem reforço escolar. Além disso, o local se tornou referência para brincadeiras. Um dos objetivos é que esse jovem consiga entrar na universidade”, conta o coordenador do projeto.
Edmilson, que é coordenador do Chemin du Futur, considera-o um projeto pequeno em relação à outros que a FSF apoia, mas, na sua visão, isso está relacionado à realidade senegalesa, onde há muitas peculiaridades. O período que ele passou no país, bem no início do projeto, fez com que ele entendesse que qualquer ação humanitária naquele local para ter efetividade não poderia de maneira alguma interferir nos costumes, cultura e religião local, tais aspectos precisam ser respeitados incondicionalmente.
Atualmente o projeto pretende ampliar a estrutura para conseguir atender o dobro de crianças, mas para isso é necessário aumentar também o número de padrinhos. Até o final de novembro o Chemin du Futur pretende acolher mais meninos, e proporcionar um lar seguro e formação profissionalizante para os jovens.
Todo apoio faz a diferença! A união de mais corações à esta missão de amor transforma a vida de centenas de meninos.
Se você deseja apadrinhar o projeto Chemin du Futur, clique aqui. Com a sua ajuda, mais meninos senegaleses poderão ser acolhidos! Doar é uma ato de amor. Doar salva vidas.