Oficina de biocarvão iniciada pelo voluntário Edmar Pedrosa é apoiada pela FAO e será expandida a três comunidades de Madagascar
Por: Alline Gois
“Pai, porque você não queima as cascas da mandioca para fazer carvão?”
O questionamento de Nicolas, filho de Edmar Pedrosa, voluntário e caravaneiro da Fraternidade sem Fronteiras (FSF), foi o clique que deu início a um movimento que tem gerado renda, reduzido o desmatamento e melhorado a qualidade de vida de famílias de Madagascar, Moçambique e do Malawi através da produção de biocarvão.
Depois da pergunta do filho, Edmar foi pesquisar soluções viáveis para levar a Madagascar. Foram quatro meses de muita leitura, até ele encontrar uma opção que poderia ser implementada nos países africanos. “Assisti dezenas de vídeos até que eu cheguei a um que mostrava a produção artesanal de briquetes. Busquei [outros materiais] e cheguei ao método, que é de uma universidade americana”.
O método é simples e acessível: um tambor de 200 litros, matéria orgânica – que podem ser cascas de mandioca, palha de milho, arroz, folhas secas, rejeitos agrícolas, etc. – ferramentas, como pá e prensa, e muitas mãos dispostas em transformar o material em briquetes de carvão ecológico.
A primeira oficina foi ministrada às famílias da Cidade da Fraternidade em Ambovombe, onde puderam entender o método de produção e o funcionamento dos equipamentos e ferramentas até a prensagem final do carvão em briquetes.
A iniciativa que surgiu da sensibilidade de Edmar tem transformado a realidade de muitas pessoas, que antes inalavam a fumaça derivada da queima de lenha na hora de preparar os alimentos dentro de suas humildes casas.
Power é uma delas. “ Ele gostou tanto, se conectou com a ideia, que já implementou [a oficina] em outras vilas mais remotas”, conta Edmar. Power é coordenador da oficina de biocarvão em Madagascar, e seu interesse e dedicação tem levado a missão mais longe.
Recentemente, a convite da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Power e Prince (coordenador em Madagascar), estão percorrendo as comunidades de Madagascar para levar a oficina de biocarvão a mais pessoas.
A capacitação já foi realizada no distrito de Bekilu, e agora segue para Beloha, Tsiombe e Ambosary. A parceria da FSF com a FAO permitirá que Prince leve a capacitação a essas outras três comunidades, proporcionando as famílias um produto ecológico a ser utilizado na hora de cozinharem seus alimentos.
A parceria entre FAO e FSF é resultado da dedicação e comprometimento de muitos corações. Nasceu da sensibilidade de Edmar, que levou a missão de acolher nossos irmãos mais longe. Mergulhou nos estudos, achou uma alternativa e voltou para Madagascar em 2018 para apresentar uma solução que, hoje, muda a realidade de centena deles.
Edmar, feliz ao ver a iniciativa ser abraçada por Power, Prince, pela comunidade local, e, agora, pela FAO, resume o sentimento: “Eu fico feliz que eles [Prince e Power] estão multiplicando. Eles estão levando a iniciativa por conta própria. Já sabem fazer, vão atrás dos equipamentos, olham se tem biomassa, fazem uma análise nos locais. Eles já são autônomos. Eu fico muito feliz com essa autonomia que eles têm, e com a possibilidade de geração de trabalho e renda, que para mim é fundamental no combate à pobreza. Se você oferece uma oportunidade de trabalho digno, viável, que produz algo de valor, isso gera renda e tira a pessoa da miséria. Eu fico feliz com a iniciativa deles e pela oportunidade que eles geram para as pessoas extremamente pobres de lá”.
Biocarvão: sustentabilidade, renda e autonomia – A oficina de biocarvão tem gerado renda e diminuído o desmatamento – o uso de lenha, responsável por parte do desflorestamento, tem sido substituído pelo briquetes de carvão ecológico.
Na Cidade da Fraternidade, em Ambovombe/África, 100 famílias têm oportunidade de trabalhar na produção de briquetes de carvão ecológico. Diariamente são produzidos cerca de 2 a 4 mil briquetes, que são divididos entre os moradores, para uso no cozimento de seus alimentos. A produção excedente é vendida e o valor divido entre as famílias que o produzem.
Atualmente, em Madagascar há três unidades produtoras de biocarvão. Malawi conta com uma unidade, que funciona no Campo de Refugiados de Dzaleka, e Moçambique possui duas unidades.
A vontade de Edmar é ver o projeto se expandir ainda mais: “ A minha expectativa é que isso se amplie cada vez mais, eu gostaria de ver em funcionamento pelo menos 100 unidades dessas, já estamos chegando a 10 unidades, só faltam noventa”, conclui Edmar, que termina com um sorriso esperançoso, e mostra que unidos podemos levar a missão mais longe e transforma a realidade de muitos irmãos!