Por Tatyane Cance
A identidade visual é uma característica muito marcante dentro da cultura africana. Está presente em suas cores vibrantes que se materializam em seus tecidos do mesmo jeito que se expressam em suas danças, seus sorrisos e suas mãos estendidas em solidariedade. Tudo isso junto faz da África um continente vibrante e apaixonante.
Por isso, a criação da marca Ubuntu Nation tem um significado especial e singular, porque além de representar uma mudança de vida para refugiados e acolhidos dentro dos projetos, ainda agrega valor ao enaltecer o trabalho e a cultura de sua gente.
O início da marca veio de onde todos os inícios dentro da Fraternidade sem Fronteiras acontecem: do coração de voluntários.
Patrícia Espírito Santo conheceu a Fraternidade sem Fronteiras (FSF), apadrinhou um projeto e viu no III Encontro FSF que aconteceu em Belo Horizonte (MG) a oportunidade de conhecer melhor a essência dessa causa. Foi lá, que durante um dos intervalos presenciou uma cena que a despertou para uma necessidade dentro da FSF. “As pessoas estavam procurando por roupas e tecidos africanos, como a quantidade era pouca, logo no primeiro dia as capulanas (tecidos africanos) se esgotaram e ao ver isso, percebi que ali teria uma demanda, já que todo mundo dentro a Fraternidade tem MUITA vontade de ajudar”, explica ela.
Depois de participar do evento, Patrícia se inscreveu para a caravana com destino ao projeto Nação Ubuntu no Malawi e com isso, começou a pensar em mais formas de contribuir. Arrecadou doações em dinheiro com amigos e conhecidos e por já trabalhar com bazar em Belo Horizonte (MG) sua cidade, acabou chegando em suas mãos uma máquina de costura que mandou consertar e guardar para um momento ideal. Momento esse que chegou justamente quando pensava em mais formas de contribuir com o projeto. Ao lembrar do acontecido no III Encontro FSF, entrou em contato com a coordenadora do projeto Nação Ubuntu, Clarissa Paz, e juntas elas pensaram na oficina de costura que futuramente veio a se tornar a marca Ubuntu Nation, que tem como objetivo ajudar homens e mulheres do campo de refugiados e de todos os outros projetos, a ter uma vida melhor através da confecção de roupas.
Ao embarcar para a caravana, Patrícia levou 4 máquinas de costura, linhas, tecidos, moldes e papéis. “Lembro que eu imaginei que apareceriam para a aula algumas pessoas interessadas, estava contando com no máximo oito alunos para a parte da manhã e oito para a tarde”, conta ela, que continua, “mas quando cheguei encontrei 25 alunos em cada período.”
Dos 25, quatro foram escolhidos para aprender de forma intensa e assim se tornarem responsáveis para ensinar os demais interessados. “Naquele período nos tornamos uma família. Logo naquela primeira caravana, tivemos a ideia de confeccionar bolsas e vendermos para os caravaneiros. Ali, eles venderam tudo e ficaram muito entusiasmados.”
Com o dinheiro arrecadado, eles compraram mais uma máquina e alguns tecidos.
Ao retornar para o Malawi na caravana seguinte, Patrícia conseguiu intensificar o treinamento e estender para mais refugiados através dos outros que já haviam aprendido da primeira vez. “Eu fiquei somente na supervisão. De manhã cada um deles dava aula para quatro alunos e a tarde para mais quatro. Ao final mais duas meninas se juntaram a eles e juntos, começaram a produzir roupas para vender para os caravaneiros”, explica ela, que continua, “eles fabricaram calças, bermudas, camisetas e saias de capulana.” Nessa caravana, tiveram a ideia de montar uma feira no refeitório e expor para os caravaneiros toda a produção. “Convidamos mais quatro expositores do campo de refugiados e montamos nossa feira”, conta ela. E foi nesse dia que eles obtiveram o primeiro ganho da, agora, cooperativa. “Eles mesmos são os responsáveis pela compra dos materiais e pela distribuição do ganho. A FSF agora dá o suporte de disponibilizar o local”.
Assim nasceu a marca Ubuntu Nation, que hoje abrange todos os projetos da Fraternidade sem Fronteiras e até as roupas que são produzidas por voluntários. “A ideia é que eles andem com as próprias pernas. Agora com a pandemia do Coronavírus eles estão focados na produção de máscaras para doarmos a todos os refugiados no campo”, detalha Clarissa Paz, coordenadora do projeto Nação Ubuntu, que continua, “mas depois que tudo amenizar, eles continuarão produzindo para comercializar localmente e em todas as caravanas da FSF.”
Enquanto isso, aqui no Brasil, voluntários se juntam para também produzir peças de roupas, vendê-las e enviar os ganhos para os projetos da FSF na África. A etiqueta Ubuntu Nation é usada tanto para as produções de refugiados no Malawi, quanto para a produção de acolhidos em outros projetos, quanto para a produção de peças feitas por voluntários. “Estamos fazendo isso para levantar dinheiro para a campanha Alimentos sem Fronteiras, para algumas campanhas e também para a clínica médica no Malawi”, conta Patrícia que hoje faz parte desse projeto ao lado de outros voluntários.
O objetivo é montar oficinas de costuras em todos os projetos e possibilitar que cada oficina se torne uma cooperativa. No projeto Nação Ubuntu e Acolher Moçambique a iniciativa já está bem avançada e há ideia de expandir para todos os outros projetos em um futuro próximo. Para os voluntários, a ideia é que os lucros das peças produzidas, que já estão como doação presente no site da FSF, sejam revertidos para os projetos.
“Queremos que a Ubuntu Nation se torne um símbolo dentro da Fraternidade sem Fronteiras, uma marca onde as pessoas possam olhar e ver a identidade e a essência da FSF em cada detalhe”, finaliza Patrícia.
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