Nascido no Congo, Jojo e seus sete irmãos enfrentaram a violência e encontraram, como refugiados, uma oportunidade para mudarem suas vidas.
Por: Julia Renó
Refúgio: lugar para onde se foge para escapar de um perigo. Essa é a definição do que, para milhões de pessoas, se torna um lar. Esse é o caso de Jojo*, de 24 anos, que precisou deixar seu país, o Congo, com a família e hoje vive no Campo de Refugiados de Dzaleka, no Malawi/África. Ele é um exemplo de que mesmo com todas as dificuldades da vida, conseguimos superar desafios com esperança, amor e gratidão.
Jojo tinha uma vida estável e feliz, morava com os pais e irmãos no Congo, mas, desde o falecimento do avô, a sobrevivência se tornou difícil devido a problemas familiares com relação à herança deixada para o pai, o que causou revolta em um de seus tios mais velhos. Eles passaram a ser perseguidos por um grupo de ladrões que exigiam a entrega do testamento, e que mataram seu pai. Desde então, toda a família se tornou alvo. “Quando descobriram que estávamos vivos, eles voltaram e incendiaram a casa enquanto estávamos dentro, mas pela graça de Deus, conseguimos fugir”, revela.
Para ele, a decisão pelo refúgio não foi fácil, mas era necessária. Antes de irem para o Malawi, tentaram, inúmeras vezes, mudar para outras regiões do país, mas eram sempre encontrados. Assim, com a negligência do governo à situação, recomeçar a vida em outro lugar se tornou a única saída.
Segundo a Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), os refugiados são “pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados”. Atualmente, essa definição reflete a história de 80 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com dados da ONU (Organização das Nações Unidas), principalmente em regiões de conflitos armados e de crise econômica.
Em 2017, Jojo chegou no Malawi e, desde então, está se adaptando e construindo sua história. Para ele, essa é uma tarefa difícil e muito dolorosa, já que eles não têm direitos reconhecidos no país e atividades simples como estudar, são dificultadas. Também de acordo com a Acnur, no Malawi, 46.190 pessoas vivem como refugiadas, dos quais 61,7% também são do Congo.
Ele relata que, no Campo, a vida é estressante. A alimentação é escassa, com apenas 6 kg de milho, 1 kg de feijão, 1kg
de soja, 0.4L de óleo e 2 sabões por mês, fornecidos pela ONU. Essa é toda a comida do mês para uma família. Além disso, eles têm problemas de acesso a cuidados de saúde e com o mais preocupante para ele: a segurança. “Eu sinto que aquelas pessoas [que nos perseguiam] podem chegar aqui, porque o Campo não tem segurança suficiente”, confessa.
Apesar de todas as dificuldades, ele é um exemplo de esperança. Seu olhar demonstra gratidão e um amor de quem entendeu e vive diariamente a filosofia ubuntu, que ele traduz como a consciência e valorização do outro. Além disso, enxerga os desafios que vive no Campo como aprendizado e experiência de vida. “Isso me ensinou a tolerar mais, acreditar em mim mesmo e a viver em comunidade, com pessoas diferentes”, pondera.
Na falta dos pais, ele se tornou muito além de o mais velho de oito irmãos, agora, desempenha também papel de pai e mãe de um jeito lindo, com o sonho de que a família volte a ser feliz. Após conhecer o projeto Nação Ubuntu, da Fraternidade sem Fronteiras e, consequentemente, o projeto Alimentos sem Fronteiras (que desenvolve técnicas de plantio na região), ele descobriu um novo objetivo de vida: se desenvolver cada vez mais e se profissionalizar em Agrofloresta.
O projeto Nação Ubuntu foi criado em 2018, guiado pelo valor de amor e união representado na filosofia africana Ubuntu (“eu sou, porque nós somos”). Com ele, permitimos que os moradores do Campo de Refugiados de Dzaleka possam ter uma vida melhor, oferecendo alimentação, cuidados médicos, cuidados de higiene, educação e o mais importante: muito carinho.
Foi também no contato com a FSF que ele conheceu pessoas incríveis e que admira muito, como a coordenadora do Projeto Nação Ubuntu, Clarissa Paz, o fundador e presidente da FSF, Wagner Moura Gomes, o coordenador do projeto Alimentos sem Fronteiras e os líderes ubuntu. “A Fraternidade é minha família, porque está me dando tudo, me ensina o valor do ser humano e colocou amor no meu coração, me mostrando que cada pessoa tem valor para o outro”, finaliza Jojo.
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*Para a segurança de Jojo, utilizamos seu apelido no lugar de seu nome verdadeiro