Colaboração: Júlia Renó
Cheios de vontade de ajudar, com muito amor ao próximo, experiências de voluntariado anteriores e uma missão muito especial, a família Milanez embarcou para Madagascar em novembro de 2019. A convite da Fraternidade sem Fronteiras (FSF), João Gilberto, que é permacultor e agroflorestador, e Arimila, que é bióloga, educadora e doula, decidiram morar em Ambovombe, sul da ilha africana, e lá darem suas valiosas contribuições para o trabalho desenvolvido no projeto Ação Madagascar. Contudo, incluíram mais um desafio nas malas: educar os filhos Mariana, Waidê e João Lucas, todos crianças, em um país com cultura e idioma muito diferentes do de origem.
Arimila conta que a intenção de ir para Ambovombe era trabalhar com a educação infantil enquanto o marido desenvolve o trabalho com a agrofloresta. Porém, como a escola ainda não está pronta e em seu tempo de adaptação na nova realidade, percebeu a necessidade de dar formação profissionalizante para os moradores da ilha e, dessa forma, passou a dedicar-se às oficinas de corte e costura, gerenciamento financeiro e higienização e manipulação de alimentos, entre outras.
“A necessidade de trabalho foi apontada pela população como o maior desafio que eles precisam vencer. Meu trabalho passou a ser, então, educação de jovens e adultos, potencializando a força de união entre as mulheres através do trabalho em cooperativa. Comecei um curso chamado Cultivando a Prosperidade para auxiliar as famílias que agora têm algum trabalho a saberem se organizar financeiramente e trazer para si a força da prosperidade, abrindo as portas para a abundância e transformando velhos padrões limitantes”, explica Arimila.
Por conta de sua essência feminina no mais belo e puro significado da palavra, o que mais a realiza é ter a oportunidade de trabalhar com as mulheres malgaxes e desenvolver atividades que vão das oficinas de aprendizagem até rodas de conversa sobre saúde, parto e maternidade, o que ela faz em parceria com a médica Janaíne Camargo, também brasileira.
Além de ser mãe de três pequenos, Arimila também auxilia a trazer outras vidas à luz, pois, também atua como
doula, profissional que acompanha a mulher gestante antes, durante e após o parto e garante que tudo seja feito da melhor forma possível, tanto para a mãe quanto para a criança. Inclusive, para ampliar seus conhecimentos a respeito do assunto, ela não perdeu a oportunidade de trocar experiências com as parteiras tradicionais da ilha em uma roda de conversa que envolveu exclusivamente essas mulheres que compreendem o maior mistério da vida: o nascimento de uma criança.
Falando em experiência materna, um dos fatores levados em conta na hora de decidirem a mudança da família para Madagascar foi a oportunidade de dar às crianças uma experiência de vida e educação diferentes, mas, não que isso deixe de ser desafiador. Porém, nas palavras da própria Arimila: “Mãe é mãe em qualquer lugar do mundo. Embora haja diferenças culturais significativas que acentuam as formas de maternar, percebo que o amor é o mesmo, incondicional e ilimitado.”
Segundo sua percepção, a principal diferença cultural entre a maternidade brasileira e a malgaxe é a forma que elas são vistas; no país africano, ser mãe é uma forma de realização pessoal, social e espiritual e, sendo assim, as famílias costumam ser numerosas, mas muito unidas e com senso de coletividade bem aguçado.
“São mulheres lutadoras como são as brasileiras, isso e outras coisas, nós temos em comum. Mas sinto que o valor da maternidade na nossa cultura não é tão determinante quanto na malgaxe. Aqui, ser mãe é sinal de status. Uma mulher passa a ser chamada de Mama de alguém ao invés de seu próprio nome como forma de demonstrar respeito.”, explica.
O ditado africano que diz que “é preciso uma aldeia toda para educar uma criança” é levado a sério na casa dos Milanez, pois, eles aproveitam muito do que as crianças fazem e como interagem com os outros membros da comunidade para explicar sobre valores e conceitos que querem cultivar com seus filhos.
“Criar três filhos não é moleza quando a gente tem noção da responsabilidade grande que é ser mãe e educadora em tempo integral. Escolhemos a educação domiciliar para eles esse ano, mas contamos com toda a comunidade a nossa volta para essa grandiosa tarefa”, ressalta.
Além disso, há outros desafios, pois, estão sendo educados em outro país em que o idioma também é diferente. “Tem os desafios dos idiomas, da cultura diferente, dos recursos mais limitados, da saudade dos familiares e amigos e das coisas que eles estavam acostumados a fazer antes, que não podem fazer mais. De vez em quando, precisamos ultrapassar os limites da criatividade para atender às necessidades deles e expandir horizontes. Mas esse é o meu tipo favorito de desafio!”, conclui.